
A sede da Filarmónica de São João de Areias recebeu a sessão, partilhada por uma assistência atenta, que comungou com o autor um momento importante e significativo. Na abertura, António Neves afirmou que a obra é uma homenagem "aos homens e mulheres que - desde há 5 mil anos - vêm construindo a nossa terra". "Esses sim, os heróis de sempre e também os dos dia de hoje", disse.
A paixão de António Neves pelo conhecimento, pela história e pela sua terra foi alimentada, desde os seis, sete anos, pelos pais, que o levavam a passear pelo campo, lançando-lhe o desafio de estudar a "cova da moura", que mais tarde veio a descobrir ser uma sepultura da Alta Idade Média. Foi aí que começou este livro - explicou António Neves - dando a conhecer todo o percurso de investigação que alimentou a produção da obra. Um percurso em que o autor foi acompanhado por familiares, por amigos e pelos próprios filhos, que contribuíram e enriqueceram o estudo de uma vida, intensificado - tal como explicou - nos últimos 15 anos.
Um estudo que "não é para ficar apenas no papel, mas também criar potencialidades turísticas", o que - segundo o autor - já aconteceu, com as cinco visitas culturais pelo património. Organizados pelo Grupo de Fãs da Filarmónica de São João de Areias, cada um dos passeios abrangeu uma área contemplada na investigação de António Neves, tendo para o efeito sido criados percursos próprios. Ao todo, cada passeio reuniu cerca de uma centena de participantes, o que é significativo do impacto ao nível desta freguesia e do próprio concelho.
Sobre a obra, António Neves explica que "resulta do levantamento dos vestígios arqueológicos de São João de Areias e da documentação medieval, com uma cronologia situada entre a Pré-História e a Alta Idade Média. "Os limites da área estudada são, no essencial, os da atual freguesia de São João de Areias. No entanto, nota que, "em determinados momentos, os perímetros são alargados aos limites do antigo concelho de São João de Areias, que chegariam a Anta (freguesia do Vimieiro) e incluíam a atual freguesia de Parada (concelho de Carregal do Sal)". Na obra, António Neves assinala, de igual modo, os vestígios arqueológicos de cada uma das freguesias de Santa Comba Dão, referindo-se ainda à origem dos nomes Santa Comba e Santa Comba Dão.
Na apresentação do livro e do autor esteve o amigo José Morais Branquinho, santacombadense e professor de história, "companheiro no estudo, valorização, defesa e divulgação do património do concelho de Santa Comba Dão". Para José Morais Branquinho, António Neves é um historiador de mão cheia. Com muita minúcia e rigor, uma "fina curiosidade" e "bichos carpinteiros", procura, incessantemente, o conhecimento.
Convicto que este livro constitui uma referência para "quem quiser fazer história nesta zona da Beira", o apresentador revelou que António Neves responde a muitas questões que se têm vindo a colocar há mais de um século na imprensa regional. Questões essas que - por sua vez - levantam novas questões. António Neves "destrói também muitos mitos", afirma, referindo que "é assim que nasce o conhecimento histórico", ou seja, "quando as respostas nos levam a novas interrogações". Para José Morais Branquinho, António Neves consegue, também, algo muito difícil de se fazer em história: "construir um texto corrente e entendível, mostrando que a resposta, por vezes, está mesmo à nossa frente".
Também Leonel Gouveia, presidente da Câmara Municipal, classificou o autor como" uma das riquezas de que Santa Comba Dão tanto se orgulha". António Neves é uma das "pessoas que - graças ao seu conhecimento, trabalho e investigação - têm dado a conhecer muito daquilo que foi o passado" do concelho - "um passado rico, muito rico", destacou. O representante do município falou ainda do trabalho desenvolvido pela Associação de Estudos do Baixo Dão" (AEBD), da qual António Neves é um dos fundadores. A AEBD promove estudos e iniciativas relacionadas com a valorização e promoção histórica e patrimonial, contando nas suas fileiras, com nomes como o de José Morais Branquinho e dos jovens Pedro Matos e Carlos Morais, que - com as suas obras e trabalhos - têm também contribuído para ampliar o conhecimento sobre a história do concelho.
Durante a sessão, Leonel Gouveia deu, igualmente, a conhecer algumas das publicações do autor, salientando o papel notável de António Neves como coordenador do programa comemorativo "José da Silva Carvalho e o Bicentenário da Revolução Liberal de 1820". Por fim, o representante máximo da autarquia destacou duas qualidades que associa ao autor e que considera estarem patentes na obra - a simplicidade e a sensibilidade. Notou ainda que essas duas qualidades, aliadas à sua função de educador, o levam a procurar a melhor e mais entendível explicação dos factos - complementada, no livro, por imagens, mapas e fotografias, captando a atenção e prendendo o leitor.
Na sessão intervieram ainda representantes das freguesias de São João de Areias, Miguel Pais, e de Parada (que fez parte do extinto concelho de São João de Areias), Ilda Cordeiro, da Banda Filarmónica de São João de Areias, Vítor Borges, e o pároco Pedro Leitão, os quais salientaram o papel de António Neves na valorização e promoção do conhecimento histórico, enriquecimento cultural e também territorial da freguesia São João de Areias e do concelho de Santa Comba Dão.
De referir, de igual modo, a intervenção da editora Teresa Adão, das Edições Esgotadas, que fez questão de notar a beleza de São João de Areias e do seu património, que o autor António Neves " descreve com minúcia". Destacou, igualmente, a procura crescente que a obra tem vindo a merecer, notando a receção de várias encomendas de universidades italianas. Trata-se pois de um livro - lançado apenas no dia de ontem - mas que "já anda no mundo".
Momentos culturais
A apresentação da obra foi acompanhada por vários momentos musicais e leituras encenadas que enriqueceram este evento, integrado no calendário dos Momentos de Cá.
Com uma excelente receção por parte da assistência, destaque para as várias apresentações musicais de grupos da Filarmónica de São João de Areias, coordenadas pelo maestro Alexandre Madeira, e para a a atuação do Liberum Quartet - quarteto de saxofones da Universidade de Aveiro, que encerrou com chave de ouro esta iniciativa.
As leituras encenadas tiveram a coordenação do ator Jorge Justo, que deu a conhecer a lenda de São João de Areias, contando, ainda, com a participação especial de Irene Durães e Hélder Onofre, do Teatro Amador do Rojão Grande, na apresentação de um excerto da obra "Leonor Telles ou o Feiticeiro de São João de Areias".